sexta-feira, 14 de agosto de 2009

“Considerava a interpretação minha maior aliada”, diz Rafael Souza, o segundo ator descartado.

Por Leandro Rodrigues

Rafael Souza é natural de Piracicaba, interior de São Paulo. Aos 8 anos de idade, já ingressava no teatro infantil, no qual permaneceu até os 16 anos, quando integrou uma companhia de teatro amador. Aos 19, mudou-se para a capital, onde ainda cursa artes cênicas na Universidade de São Paulo (USP) e participa de vários outros projetos.

O segundo ator-jogador descartado de Projeto Canastra é otimista, encarando a decisão do público como um aprendizado: “acho muito produtiva uma eliminação rápida, pois só assim posso identificar os erros cometidos”, e diz que, se pudesse prever a sentença, daria menos chance ao azar.

Acredita que a sua insegurança na apresentação de estréia foi o que culminou com a sua saída da peça-jogo, e que, com a escolha, o público deixou de assistir cenas com maior qualidade de interpretação: “considerava a interpretação minha maior aliada, diferentemente de outros atores-jogadores, que possuem como ponto forte a personalidade, as idéias para as cenas etc”, acrescenta.

Ao título de Ator-Canastra, Rafael aposta suas fichas em Maria Fernanda Batalha, mesmo torcendo por outra pessoa, o que mantém em sigilo.

Para quem ainda deseja acompanhar Rafael Souza em cena, o ator está em cartaz com o espetáculo “DNA”, no Teatro Cultura Inglesa (mais informações em http://www.culturainglesasp.com.br/agenda/content/uolithejup.mmp). Rafael também estará neste sábado no Teatro Laboratório CAC-ECA-USP, não mais dividindo o palco com o elenco do Projeto Canastra, mas na portaria, recebendo os ingressos do público.

Neste final de semana, a platéia decide o destino de mais dois atores-jogadores. Projeto Canastra está em cartaz até 30 de agosto, aos sábados às 21h e aos domingos às 20h30, no Teatro Laboratório CAC-ECA-USP, da Universidade de São Paulo (Av. Professor Luciano Gualberto, Travessa J, nº 215, Cidade Universitária – São Paulo). A entrada é gratuita e os ingressos são distribuídos com uma hora de antecedência.

Confira a entrevista de Rafael Souza na íntegra:


Leandro Rodrigues: Tanto você, quanto o Camilo Schaden, apresentaram cenas dramáticas e foram os primeiros atores-jogadores descartados pelo público. Pode-se afirmar que há uma preferência do espectador por cenas cômicas?

Rafael Souza: Sim. Acredito que o formato espetacular da peça-jogo e o público que a tem freqüentado tendenciam à preferência de cenas cômicas. Uma cena dramática necessita de uma atmosfera e um desenvolvimento, que podem não ser efetivados pela curta duração de cada uma delas ou até mesmo pela descontração que acompanha o jogo, principalmente na figura da Canastrete (Raquel Morales). Mas acredito que não é apenas o fato de termos sido eliminados com cenas dramáticas o que temos em comum: tanto a cena do Camilo (8 de Copas), quanto as duas cenas que pude apresentar no jogo (2 de Paus e 5 de Espadas) tinham o foco na palavra, no "se dizer" o texto, o que pode ter gerado o desgosto do público.

LR: Sua “persona” é a do popstar, cheio de gestos, com pinta de galã. Uma das características de suas encenações é uma pequena introdução na qual você explica como concebeu a cena. Na platéia, há quem não simpatizou com o seu estilo. Se fosse possível prever a sua eliminação, você teria alterado alguma coisa em sua participação em Projeto Canastra?

RS: Claro! Inclusive acho muito produtiva uma eliminação rápida, pois só assim posso identificar os erros cometidos nas escolhas feitas no processo e durante o próprio jogo. Um deles é a introdução, que me destacava dos outros atores-jogadores e criava expectativas para a cena a ser realizada, que poderiam não ser correspondidas. Também teria construído algumas cenas de maneira diferente, não necessariamente cômicas, mas com menos margem de fragilidade, dando menos chance para o azar, que me pegou em cheio nos sorteios das cenas.

LR: Na segunda apresentação, com a cena 5 de Espadas, você assumiu um interlocutor feminino com tom dramático, como já falamos. Mesmo muito emocionada, a platéia o descartou. Em sua opinião, há rejeição do público quando um homem interpreta uma mulher, que não seja de uma forma caricata?

RS: Atribuindo à minha eliminação apenas esta apresentação, diria que sim, tendo em vista que minha cena 5 de Espadas foi uma das poucas dramáticas que conseguiu atingir parte da platéia. Mas acho que a estréia foi o que mais influenciou meu descarte, pois foi totalmente equivocada. Tive o azar de sortear minha cena mais fraca e me deixei abalar por isso, mostrando-me totalmente desconfiante, quase em tom de desculpa, pelo que estava apresentando. Mesmo tirando essas variantes, suspeito que a parte do público mais acostumada à linguagem televisiva tenha essa rejeição.

LR: O que você gostaria de ter apresentado e, com a sua eliminação, o que o público perdeu?

RS: Gostaria de ter apresentado diversas cenas, em especial a cena 6 (de Paus), minha cena mais marcante no jogo. Com minha eliminação o público perdeu muitas cenas cômicas, por exemplo, a 7 (de Paus), com uma qualidade de interpretação maior do que várias que vem sendo apresentadas, já que considerava a interpretação minha maior aliada, diferentemente de outros atores-jogadores, que possuem como ponto forte a personalidade, as idéias para as cenas etc.

LR: Qual conselho você deixa aos atores-jogadores restantes?

RS: Não se levem a sério. E agora, que não estou mais nas disputas pelo curinga, vão com fé!

LR: Quais os atores-jogadores com maiores chances de serem eleitos como Ator-Canastra? Você possui algum preferido?

RS: É muito delicado tratar desse assunto, pois começamos a sacar quais são as verdadeiras "leis" do público, neste primeiro fim de semana. Acredito que, atualmente, os atores com menos risco de eliminação são Luís Gustavo, Maria Fernanda, Francine e Estéfano. O jogador que mais preenche as qualidades para se tornar o Ator-Canastra é a Maria Fernanda, mas minha torcida não polpa apegos emocionais e é pra outra pessoa.

LR: No geral, O que representa o Projeto Canastra para você?

RS: Antes, representava uma montagem arriscada, inovadora e com um processo de autodisciplina bastante difícil, me vendo sozinho na montagem de dez monólogos. Hoje, representa o maior processo de reconhecimento pelo qual já passei, no qual pude identificar tanto pontos positivos quanto negativos da minha personalidade e da minha criação.

LR: Deixe uma mensagem para alguém em especial e outra para o público.
RS: Para alguém especial: obrigado por toda a preocupação comigo em relação ao Projeto Canastra, em todos os momentos, da próxima vez tentarei dar muita mais importância ao que você me diz e me cobra! Ao público: Por incrível que pareça, obrigado! O descarte tornou o projeto muito mais enriquecedor. E continuem acompanhando para descartar o próximo!

4 comentários:

  1. Essas entrevistas estão muito profissionais! Foi ao vivo, com gravadorzinho e tudo o mais? Sempre que eu leio Leandro, eu imagino o Leandro do Pira entrevistando ele! Sou inútil, eu sei!

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  2. Maior qualidade que muitas outras...
    Babado.

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  3. .... é isso aí companheiro.
    a mercê da sorte, do azar, do "estar", da vontade de estar, da alegria, da torcida... ai são muitas as variáveis.!
    beijos.

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